A newsletter dessa semana, traz os posts do silencionoestudio.com.br diretamente pra sua caixa de email. Leia os textos que saíram no nosso site entre 16 e 20 de junho.
O triste fim da música
Por Vinícius Cabral
Adeus, Brian.
Ele se foi.
“O arquiteto do pop”, disse a Rolling Stone. Foi muito mais do que isso. Até porque o pop, que nos anos ’60 derivou de obras perfeitas como Be My Baby para culminar nas experiências de Wilson, tomou outros rumos lá pelos ’80. Eu tenho a hipótese de que quem realmente adotou o legado de Brian Wilson foram os múltiplos nichos do alternativo. De Big Star, ainda nos anos 70, a Animal Collective, Beach House ou Big Thief, mais recentemente.
A verdade é que, como nosso Márcio disse, tudo o que ouvimos hoje deve muito à Brian. Da perfeição das harmonias e paredes de Pet Sounds aos delírios inacabados de SMiLE. Da perfeição neurótica à loucura processual – tem como não ficar louco fazendo música neste mundo? Eu não faria música até hoje não fosse por esse cara. Dá um engasgo, uma coisa ruim. Demorei pra caralho pra conseguir ouvir sua voz depois da notícia. Foi complicado abrir esse rascunho pra escrever um texto. Mas aqui estamos.
O que aprofunda o engasgo é que Brian talvez seja o cérebro (e o coração) de toda uma geração que se despede de nós – e com ela, a história da música popular do século XX, que definiu o que ouvimos até hoje. Em uma só semana, Brian Wilson e Sly Stone. Antes deles, Erasmo e Rita Lee. Voltando mais um pouco podemos lembrar de Prince, Bowie. George Martin já se foi, assim como metade dos Beatles. Da formação original do Kraftwerk, apenas Ralf Hütter permanece. É um século inteiro que se vai aos poucos. Pouca gente discorda que, de todos estes, Brian foi o mais brilhante. O gênio total. O ouvido absoluto, capaz de, praticamente sozinho, mesclar composição, produção, arranjos e mixagem em um conjunto o tempo todo criativo, meticuloso e perfeito.
Assim como a morte de Godard para mim teve o gosto amargo do “fim do cinema”, a ida de Brian tem o gosto amargo do “fim da música”. Mas não é o fim da forma de arte, literalmente. É o fim de uma ideia de música. De uma filosofia, de uma forma de se fazer e pensar a arte musical. Nosso século ainda carece das ideias que serão definidoras. Os pilares, um a um, vão nos deixando. E o que fazer quando as bases se desmontam? Estudar com muita atenção a história, para avançarmos.
É uma despedida, mas não é o fim. E como poderia ser, quando aquilo que Brian nos deixou é tão eterno? Pra encerrar essa despedida, vale até lembrar como tudo começou pra mim.
Era uma tarde qualquer, de um dia de escola qualquer. Eu dei play em uma cópia em CD do Pet Sounds no meu discman – cópia que tenho até hoje, por sinal. Quando chegou em God Only Knows, algo inédito aconteceu. Meu corpo arrepiou inteiro, e comecei a chorar. Isso nunca havia acontecido comigo antes, e raras vezes aconteceu depois. Mas o fato é que toda vez que ouço essa canção (e tantas outras de Brian) meu corpo responde de formas inesperadas. Já tentei explicar. Já “desmontei” as canções, as notas, os arranjos, as harmonias. Já desnudei tudo, e continuo sem conseguir explicar.
A experiência de Brian Wilson, e de nosso contato com a arte dele é, como alguns já disseram, o mais próximo que podemos chegar, sem religião ou culto, de uma experiência espiritual.
Eu que não acredito em deus, e nunca acreditei, acredito piamente em Brian Wilson, e na força transcendental daquilo que ele criou. A música nunca mais foi a mesma depois de Brian. E nunca mais será a mesma sem Brian.
Sã Verdade do 43duo é Rock brasileiro com textura e psicodelia
Por Bruno Leo Ribeiro
Formado por Luana Santana e Hugo Ubaldo, o novo disco mistura indie, psicodelia e brasilidade em uma produção orgânica e criativa.
Na internet, você consegue achar debate sobre qualquer tipo de assunto. Sobre música então, as variáveis são quase infinitas. Os argumentos de que a música de hoje em dia está cada vez pior por causa da tecnologia e da facilidade de se produzir acabam na segunda página do debate. Usar a tecnologia apenas acelera as ideias criativas. E com mais tempo pra focar nas ideias, as inovações acabam acontecendo com mais velocidade.
Tirando as limitações do caminho, os artistas podem criar o que quiserem. Os limites estão se esgotando e, pra mim, isso é ótimo. Misturas e produções estão cada vez mais interessantes. Tivemos os momentos das perfeições do mundo digital, com tudo muito polido — e isso ainda é válido pra determinados nichos —, mas é muito bom ouvir algo que soa natural, com textura, como se estivesse bem ali na sua frente. Em Sã Verdade, novo disco lançado no dia 12 de junho, a dupla 43duo traz esse sentimento de uma produção cheia de nuances, de um trabalho feito pra soar como ao vivo.
O 43duo foi formado em Paranavaí, no Paraná, por Luana Santana, que se divide literalmente entre bateria, teclado e voz, e Hugo Ubaldo, na guitarra e voz. Enquanto está tocando bateria com uma das mãos, Luana toca teclado ao mesmo tempo e também canta. É um multitasking de dar inveja. O som da banda é uma mistura de rock com tempero brasileiro e indie psicodélico. É como se o White Stripes fizesse cover de Caetano Veloso, com arranjos do Pink Floyd da era Syd Barrett.
Sã Verdade foi feito pensando na possibilidade de ser executado ao vivo. Mesmo sendo uma dupla, o 43duo soa como uma banda completa. O trabalho e o carinho pra ter a certeza de que boas ideias seriam bem executadas é pra bater palmas com os pés e escrever elogios com as mãos enquanto gritamos bem alto que eles estão de parabéns.
É um disco com 7 faixas que termina com a sensação de uma renovação excelente no rock brasileiro. O indie e o rock estão em excelentes mãos. Com a tecnologia, projetos como esse começam em casa, no computador, com loops e testes. Enquanto as ideias vão se formando, o som acaba sendo a parte mais importante. Os limites criavam estéticas; hoje, as estéticas são expandidas, sofrem engenharia reversa e voltam como um sentimento do novo que soa familiar.
Além das músicas, o disco tem um teor lírico que inspira. Hugo comenta que as composições são uma reflexão do mundo que eles acreditam e vivem, em formato de mensagens psicodélicas. O próprio nome do disco veio da reflexão sobre a “pós-verdade”, em um olhar antagônico — assim criando a Sã Verdade.
O disco começa com a faixa-título Sã Verdade, e o riff de guitarra e seu groove grudam na cabeça e não saem mais. Já na sequência, com um ótimo timbre de guitarra e um ritmo com quebrada de tempo, vem Sal e Sina. Em Navio de Sonhos, um dos grandes destaques do disco pra mim, há um quê de rock de arena à la Bruce Springsteen, com uma melodia e frases de guitarra belíssimas.
O disco segue com Guabiruba pt. II, que tem um dos arranjos mais interessantes da jornada desse ótimo disco. Em Cabeça Vasta (Chuva Cinza), um rock cheio de espaços e reviravoltas. Em Concreto, uma coisa meio post-punk com um ótimo riff acompanhando a melodia. E, fechando o disco, temos Lispector, um grande épico pra encerrar o disco em ótimo tom e versatilidade.
O 43duo certamente lançou um dos discos mais interessantes da música brasileira em 2025 e merece todo o destaque. A dupla desafia os argumentos de quem diz que a música de hoje em dia é pior do que a de antigamente só porque é mais fácil produzir.
Ter o cuidado de achar sua estética e garantir que o disco possa ser executado ao vivo mostra que a tecnologia veio pra ajudar. A dedicação e novas ideias sempre serão maiores do que a tecnologia. Uma produção boa pode até salvar canções vazias — mas canções cheias de criatividade e cheias de emoções sempre serão maiores do que qualquer coisa.
Arigatô, abóboras
Por Brunno Lpz
Helloween começa a viagem de seu novo disco com um single em homenagem ao Japão
29 de agosto marcará o aguardado lançamento do segundo disco pós-retorno do Helloween e a primeira impressão dá motivos pra sorrir (e muito).
Desde o anúncio de Giants&Monsters, que será o décimo sétimo álbum da banda, a expectativa em torno da sonoridade era inevitável: será uma continuidade do power metal clássico dos Keepers que consagrou o grupo ou uma versão mais moderna e ousada de The Dark Ride?
Bem, ‘This Is Tokyo’ prova que estamos mais para Pink Cream 69. E isso é ótimo. A aura hard rock da intro, que lembra um pouco de ‘Can’t Fight Your Desire’, do Master of the Rings, já começa com um dueto Deris-Kiske arrepiante, mostrando que os dois nasceram pra cantar juntos. O refrão de arena promete ser cantado na mesma intensidade que os clássicos. Sobrou até um tempinho antes do solo de guitarra para uma atmosfera de tambores que homenageia o kumi-daiko, tradição japonesa que enriquece a faixa com personalidade e respeito.
Fica a curiosidade de ouvir as músicas que terão Michael e Hansen como vozes principais, mas até então, ‘This Is Tokyo’ parece ser uma escolha interessante para apresentar o direcionamento atual da banda. O som está acessível e ao mesmo tempo incorporado com a identidade do Helloween, porém, de uma forma menos caricata e muito mais madura.
Os puristas que lutem. E percam, de preferência.
Até lá, sayonara!
Assista aqui:
A morte orbitando Marte
Por Márcio Viana
MONCHMONCH lança MARTEMORTE: álbum que encarna o mundo em colapso e que chega com vinil e HQ .
MONCHMONCH, a alcunha com a qual se apresenta o paulistano Lucas Monch, lançou nesta última terça, 17/06, o disco conceitual de punk experimental MARTEMORTE.
Gravado no Brasil e em Portugal, com músicos dos dois locais, MARTEMORTE é descrito no release do projeto como "álbum-quadrinho", por chegar acompanhado pela HQ com interpretações visuais sobre as nove músicas do disco.
A princípio, o trabalho foi pensado para ser uma gravação simples, com os músicos brasileiros do projeto, mas acabou por evoluir para um trabalho conceitual, gravado também com músicos portugueses em algumas faixas, trazendo este fator inusitado de ser uma banda binacional.
O conceito do disco é descrito como um cenário que engloba o trabalho: bilionários colonizam Marte e, de lá, assistem — e contribuem — para o colapso da Terra. Absurdos do mundo pós-moderno são expostos com humor, ironia e um apego simbólico ao pão de queijo, transformado aqui em alegoria de desejo, poder e banalidade.
A irreverência do projeto e do tema proposto traz à tona canções como JEFF BEZOS PAGA UM PÃO DE QUEIJO e VELHOS BRANCOS VELHOS CAREQUINHAS.
Se já é difícil ter ideia do que significa ser punk experimental, o que se ouve e as referências reveladas pelo artista ("de Viagra Boys a Tom Zé") também não são fáceis de se identificar, até pela mistura que propõem. Mas me lembrou também um pouco do Pato Fu da época de Rotomusic de Liquidificapum.
A versão em vinil do disco traz um lado B intitulado DOS ENTULHOS LOUCOS CAVAM SOL, com canções menos voltadas para a crítica social e mais introspectivo.
Os Lançamentos da Semana: 14 a 20 de junho de 2025
Entre os lançamentos da semana estão HAIM, SOPHIE, KAROL G, Don L, MONCHMONCH, YUNGBLUD, Hotline TNT, U.S. Girls, Death Pill, Stray Kids, ILLIT, Benson Boone, Tropical Fuck Storm, Alestorm, Malevolence e Cryptopsy.
https://silencionoestudio.com.br/lancamentos-da-semana-14-a-20-de-junho-de-2025/
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É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana