A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele "gostinho" de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT'S A CLASSIC
Por Vinícius Cabral
A TRAGÉDIA DE ACETONE
O ano começa para mim (ou foi o passado que terminou) com outra descoberta daquelas. Basicamente, mais uma banda que “nunca existiu", e que começou a ser pescada por aí muito recentemente. Muito mesmo. Algumas das primeiras menções à banda Acetone começaram a pipocar pela internet há mais ou menos 3 anos. Ano passado foi o momento de capitalizarem em cima disso. O selo New West Records, sabe-se lá como, adquiriu todos os direitos do catálogo da banda e fez uma baita tiragem de todos os álbuns deles em vinil.
Esgotou. Nem todos os discos estão acessíveis nos streamings “oficiais”, a não ser o homônimo Acetone, de 1997, e a coletânea 1992-2001, que já havia sido lançada em 2017*. E o que há de tão notável assim, então, nos Acetone, para que qualquer tipo de comoção tenha sido criada em torno da banda? Surpreendentemente, a música. Acetone foi, basicamente, um power trio de Los Angeles “fisgado” pelas majors no inicinho dos anos 90, naquele frenesi da corrida pelo “próximo Nirvana". Lançaram 3 LPs para Vernon Yard, uma subsidiária da Virgin Records, a partir de um contrato milionário.
Mas a “vibe” da banda não era nem um pouco comercial. Até tentaram, nos primeiros trabalhos, produzir uma espécie de “loud-quiet-loud” a exemplo daquilo que estava arrebentando nas rádios e na MTV. Só que os rapazes de Los Angeles sempre prezavam mais pela parte “quiet” da equação. Vê-se logo no início de sua carreira, como na magnífica Louise, que os climas e o (assim chamado) softcore eram os motores principais do grupo. Com o fracasso nas tentativas de obter sucesso comercial, a banda viu-se abandonada, até que Neil Young encontrou os rapazes, contratando-os por seu selo, o Vapor. Foi por ele que lançaram seu melhor álbum, o homônimo de 1997. Acetone, o álbum, encapsula perfeitamente o que a banda desenhava desde o início: canções arrastadas, cheias de climas, vocais suaves e um impressionante “engate” entre guitarra e bateria (notem o final da canção Shobud) - remete a Crazy Horse e Big Star, mas com uma energia própria dos 90.
Softcore, afinal.
Pouco antes deste termo começar a ser utilizado (eu até hoje pensei que era só um meme), Acetone já traduzia perfeitamente a ideia. E há muitas coisas que eu poderia desenvolver agora, tanto sobre o subgênero quanto sobre Acetone. Mas a verdade é que ainda não conheço suficientemente a banda - ainda envolta em muitos ares de mistério e desconhecimento. É incrível dizer isso, mas em pleno 2024 ainda há coisas que conhecemos muito pouco, e com pouquíssimas fontes. Ainda bem que, em música, basta uma canção para nos transportar a toda uma história - e a canção que fez isso por mim foi a 2ª deste álbum, a impressionante All The Time.
A história de Acetone é uma tragédia. Os rapazes debandaram em 2001, totalmente invisibilizados, e Richie Lee, vocalista e baixista, tirou a própria vida no mesmo ano (provavelmente torturado pelo vício em heroína)**. Seus álbuns ainda não estão organizados devidamente, então linko abaixo o topic do YouTube. E já adianto: assim como acontece com tudo aquilo que pode ser chamado de softcore, Acetone ou vai bater muito, ou não vai bater de modo algum. Em mim bateu profundamente, e fica a sensação de que, se realmente existe essa história (de softcore) a banda é a principal proponente disso a partir dos anos 90.
*A coletânea é linda, mas não recomendo começar por ela. É muito fácil de adquirir uma impressão errada da banda indo direto neste conjunto específico de canções.
**A quantidade assustadora de compositores talentosíssimos do nosso querido underground que tiveram o mesmo destino trágico de Lee deveria ser, desde os anos 90, no mínimo, motivo de profunda preocupação. É importante que falemos mais sobre o assunto, e que cuidemos dos nossos. E, claro, de nós mesmos.
Por Bruno Leo Ribeiro
CAIU A LUZ?
Nos últimos dias começaram a aparecer posts no Twitter de gente falando que algumas músicas e discos nacionais começaram a sumir do Spotify, inclusive o disco Luz do Djavan de 1982.
Fui dar uma olhada no meu Apple Music (não é post patrocinado), mas o disco tá completinho aqui. Será que é problema de localidade? Ou de serviço?Vamos aguardar por alguma explicação. Mas fui conferir se o disco tava tocando direitinho e que disco!
Apesar de gostar de falar sobre o coeficiente de Djavanização das letras aleatórias produzidas por aí, eu gosto bastante dessa aleatoriedade, que na cabeça do Djavan faz total sentido.
O disco Luz é o quinto disco do Djavan, lançado em 20 de agosto de 1982 pela Sony Music (deve ser aqui que dá dando treta de direitos com o Spotify).
O disco só tem HIT. "Samurai", com a participação de ninguém menos do que o Deus Stevie Wonder, "Pétala", "Açaí", "Sina", "Esfinge", "Capim" e "Luz".
Discáço. Fazia muito tempo que não ouvia e curti demais. Acho que envelheceu muito bem. Se você conseguir ouvir, dê play nessa lenda.
PS: Segue images abaixo da opinião do Ed Motta com relação ao Spotify.
Por Márcio Viana
OS PRIMEIROS ANOS DA CRUZ VERMELHA
Quem conhece o som meio powerpop/meio grunge dos californianos do Redd Kross, talvez não tenha ideia do início totalmente punk da banda (ok, talvez isso não seja tão difícil em tempos de streaming, mas o Redd Kross tem seu nicho).
Bem, o fato é que os irmãos Steven e Jeff McDonald tinham 11 e 15 anos, respectivamente, quando formaram sua primeira banda, The Tourists, em 1978. Apenas dois anos depois, os irmãos (Steven no baixo, Jeff nos vocais e eventual guitarra) se juntaram a Greg Hetson (guitarra, que depois deixaria o grupo para integrar o Circle Jerks e mais tarde o Bad Religion) e Ron Heyes (bateria), para gravar seu primeiro EP, intitulado Red Cross, o nome que inicialmente escolheram para a banda, após descartarem a alcunha The Tourists.
Como já era de se esperar, após o lançamento do EP, a banda teve problemas com a Cruz Vermelha, o que os fez mudar a grafia do nome para Redd Kross (o que, convenhamos, acabou sendo até melhor para a banda).
O som, claro, bebe na fonte do punk californiano, e os temas circulam em torno de dilemas juvenis, como I Hate My School e Clorox Girls, e mesmo Cover Band.
O EP, com seis faixas, foi relançado digitalmente ao completar 40 anos, em 2020, incluindo versões demos e uma faixa ao vivo. Dá pra conferir no play aqui no Bandcamp e nos demais links logo abaixo.
Ouça Red Cross em sua plataforma favorita
Por Brunno Lopez
PAUSA
Em 2019, o 5 a Seco fazia mais um de seus discos penetrantes. Poesia de vozes que não se vê no cenário musical brasileiro com o destaque proporcional, o grupo paulistano consegue criar conexões profundas através de suas letras esculturais e melodias calcadas num senso de abraço e reflexão leves.
’Como Quero Demonstrar’ é um daqueles destaques que respiram ares refrescantes numa dessas segundas-feiras ensolaradas. Leo Bianchini entrega um timbre fabuloso pra esta canção, assim como os outros 4 igualmente se encaixam nas outras faixas.
Juntos, eles fazem mais por quem ouve do que provavelmente possam imaginar. Em tempos de O Terno e outros grupos com nome de traje, o 5 a Seco é o que se veste melhor.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana