Newsletter - Silêncio no Estúdio Vol. 164
12 de setembro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele "gostinho" de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT'S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
PARA EMMA
Confesso que alguns artistas eu demorei a chegar na festa, principalmente The National e Bon Iver. Conhecia e escutava algumas coisas e foi até o que me fez ficar curioso com o folklore da Taylor Swift, pois sabia da qualidade daquele indie folk cobertor quentinho.
Depois de tirar o atraso, For Emma, Forever Ago, virou um dos meus discos de conforto, assim como tantos outros, mas esse foi crescendo com o passar do tempo.
For Emma, Forever Ago do Bon Iver é um disco lindo, real, cru, cheio de verdades e de muito bom gosto. As camadas de voz, o violão simples, os arranjos na medida e aquele ar de disco feito em casa, fizeram esse disco ser um clássico pra mim.
Semana passada consegui a minha cópia de vinil e não parou de tocar durante essa semana. Esse clássico, poderia ser um Recent Play da Newsletter, mas achei o timing perfeito pra dizer que esse sim já é um clássico e merece todo o carinho e atenção.
Tomara que esse disco te traga conforto como ele traz pra mim. É o que mais precisamos nos últimos 3 anos.
Ouça aqui esse clássico do Bon Iver
Por Vinícius Cabral
INESQUECÍVEL E FUGAZ
Me permitirei dar continuidade à pauta da última semana.
Com o perdão da ideia fixa, tenho em minha defesa a hipótese de que Suárez é uma das bandas mais subestimadas do indie internacional. É o é até na própria Argentina, país que não costuma subestimar nem um pouco seus recursos mais valiosos.
Pode ser que seja assim por “culpa” do meteoro multiartista Rosario Bléfari. À frente da banda, esse gênio absoluto acabou ofuscando, com sua personalidade e posterior carreira solo, a curta trajetória da banda - que se deu basicamente entre 88 e 99. Mas há outros motivos; eu mesmo conheci a banda em finais dos 90, através de clipes isolados na MTV Latina, mas não despertei na época para a qualidade e o pioneirismo do quarteto porteño diante de “concorrentes” mais vistosos, como Soda Stereo ou Illya Kuryaki & Los Valderramas. Foi só ao assistir o maravilhoso longa-metragem Silvia Prieto, que Rosario protagoniza brilhantemente, que “lembrei” de resgatar a banda. Como eu digo, nunca é tarde pra desenterrar um tesouro escondido.
Com apenas 4 álbuns de estúdio e uma trajetória praticamente impecável, a banda apresenta uma evolução incrível entre suas primeiras experiências, mais ligadas ao lofi/shoegaze (como nos dois primeiros discos, Hora de No Ver e Horrible) e o álbum que comento aqui, o Galope, de 1996 (terceiro disco da banda e, sem dúvidas, o melhor). O álbum seguinte, Excursiones, chega a ser mais pop, com produção mais limpa e acessível, mas não bate a energia inovadora do antecessor.
Galope já começa com uma pedrada histórica, quando a banda apresenta Porvenir, canção do disco anterior, repaginada com um arranjo, no mínimo, stereolabiano. Tenham em mente que isso é 1996, o mesmíssimo ano de Emperor Tomato Ketchup. Os argentinos da Suárez não estavam apenas alinhados com o seu tempo. Estavam em sinergia com aquilo que era o mais à frente do seu tempo sendo produzido em seu tempo. E claro que, ao interpretar essa estética no contexto do rock argentino, estavam criando uma sonoridade jamais explorada, com autoridade.
É difícil de superar Porvenir, mas o disco ainda melhora. Lá por Asesina, notam-se as desafinadas infantis de um Beat Happening ou The Raincoats, saltando de uma cozinha desconstruída e caótica. Em outras canções, como Los Veo Aparecer e En Una Habitación, a banda mostra que era possível avançar em uma estética indie lo-fi a partir destas matrizes mais tipicamente estranhas, sem seguir apostando nos maneirismos “grungeiros” que, a essa altura do campeonato, definiam totalmente o cenário do rock alternativo (flertando, às vezes vergonhosamente, com o mainstream). Suárez não estava na roda pra fazer sucesso.
A liberdade e inventividade noventista que se destaca em canções como Explosión Madonna, Bajo Kill, Grandiosa ou Rio de Enero - essa uma bossa-indie inusitada -, era algo que nem os estadunidenses da Yo La Tengo (ou um Beck, vai) poderiam ter antecipado. É de liberdade mesmo que temos que falar quando uma banda atinge tais hibridismos sem nunca perder a veia abertamente contestadora de um rock que não se consegue definir por uma meia dúzia de características. Trafegando entre um liricismo tipicamente porteño (que remonta à Spinetta, Charly, Aznar, Cerati e muitos outros) e a modernidade dos arranjos indie, despretensiosos e esquisitos, Suárez soa como uma novidade em pleno 2022.
A banda chegou a se reunir, lançando um EP de inéditas em 2020, mas o projeto foi abreviado pela precoce e absurda morte de Rosario. As muitas homenagens à memória da artista parecem contrariar a minha hipótese de que a banda ainda é subestimada. Mas a afirmação faz muito sentido quando vemos que, em primeiro lugar, a estrela de Rosario suplantou a própria banda. Em segundo, que os 4 discos e muitas turnês de Suárez foram algo ao mesmo tempo inesquecível e fugaz - o underground é, e sempre foi, esse lugar de marcar de forma indelével a vida de poucos (mas fiéis e apaixonados) seguidores. Seja como for, os discos da banda, como este perfeito Galope, ainda estão por ser devidamente recomendados, resenhados e salvos para a posteridade.
É, certamente, um dos maiores álbuns da história do indie latino-americano.
Por Márcio Viana
O AMOR SÓ CONSTRÓI, O AMOR SÓ DESTRÓI
Quem ouviu o episódio No Holofote feito pelo Bruno Leo com o André X da Plebe Rude, sabe que o maior fã do grupo era ninguém menos do que Renato Russo. E como fã, Renato queria que a banda trilhasse o caminho que ele achava o ideal. O cantor da Legião tinha a opinião de que a Plebe não era uma banda para estar em uma grande gravadora e se submeter aos caprichos da indústria.
O exemplo de caminho que Renato vislumbrava para a Plebe era o que foi percorrido pelo Smack, banda formada por Edgard Scandurra em 1983 com Sandra Coutinho (Mercenárias), Thomas Pappon (jornalista e músico com passagens por Fellini, Voluntários da Pátria, entre outros) e Sérgio Pamplona Jr, conhecido como Pamps, que chegou a integrar a Banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção.
O disco que fez a cabeça do legionário era Ao Vivo No Mosh, a estreia do Smack, que como o nome já diz, foi gravado ao vivo no Estúdio Mosh, em São Paulo, e foi lançado pelo selo independente Baratos Afins, loja do centro da cidade e referência na venda de discos para o Brasil todo.
Ao Vivo no Mosh, além do talento individual de cada um dos integrantes, apresenta um Edgard Scandurra bem diferente do que fez sucesso no Ira! Aqui, Edgard e seus colegas apresentam canções mais fragmentadas em termos de letra e música, influenciados pelo pós-punk de Gang of Four, Talking Heads, Wire, entre outros.
Junto a isso, as letras melancólicas de Pamps traziam uma particularidade muito grande ao grupo, até hoje muito cultuado, sobretudo por versos como “sei me desesperar só não sei viver / se ninguém me encontrar porque não morrer / não sei, não sei o que vou fazer/ já sei, já sei, mas não pode ser” (de Desespero Juvenil).
Edgard acabou por deixar o grupo para se dedicar à sua banda principal, mas eles continuaram por um tempo, lançando o álbum Noite e Dia como um trio.
Chegaram a se reunir algumas vezes, inclusive lançando Smack 3, um EP, pela Midsummer Madness.
Em 2015, Pamps faleceu, em decorrência de problemas associados a uma cirrose hepática. Em 2019, os três remanescentes se reencontraram para um show no Centro Cultural São Paulo, com o acréscimo de Fábio Golfetti, do Violeta de Outono, na segunda guitarra. Foi a chance que eu tive de ver a banda ao vivo, e o show foi excelente.
Dito isso, para quem não conhece a banda, vale ouvir Ao Vivo no Mosh, um disco com uma sonoridade bem avançada para sua época, com suas inspiradíssimas canções.
Por Brunno Lopez
PRETTY DEBUTE
Falei esses dias sobre a Taylor Momsen em relação ao último clipe lançado pela sua banda, o The Pretty Reckless. E na esteira daquilo, relembrei o disco de estreia poderoso do grupo, o Light Me Up, que já chegou vendendo 9 mil cópias logo na primeira semana.
Era a bandeira do rock alternativo sendo hasteada em 2010 com hinos dignos de uma nação inteira.
Minha favorita? “Just Tonight”. Mas tudo ali vale demais a audição.
Comprove comigo.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana