Newsletter - Silêncio no Estúdio Vol. 126
20 de dezembro de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
TEM COISA DEMAIS
Saiu um artigo no The Guardian bem interessante pra gente refletir juntos sobre o possível excesso de cultura. Se antigamente a gente meio que conseguia acompanhar as novelas, livros e discos que saíam, hoje em dia isso não é mais possível e isso acaba criando uma crise de ansiedade desnecessária pelo famoso FOMO (Fear Of Missing Out).
Quando entramos nas redes e vemos "todo mundo" falando de uma série, um disco, um livro, um jogo, queremos logo consumir aquilo pra não nos sentirmos de fora do assunto do momento. Com os streamings, isso está cada dia pior. Se a gente segue 100 pessoas, 25 estão falando de um livro, outros 25 estão falando de uma série da Netflix, outros 25 de uma série da HBO e outros 25 estão falando de uma série na Disney+. Com música é a mesma coisa. Não existe mais um consenso. Está tudo espalhado. Tem coisa demais por aí.
O momento é de desacelerar. Ouvir, ver, ler e jogar o que realmente gostamos, sem medo de alguém nos julgar. Ninguém é obrigado a nada. Tem gente que acha que só porque estamos na internet, temos que saber o que é Farofa Gkay. Não… não precisamos saber.
Está chegando o momento que tem tanta coisa que não tem como nada ser grandioso. Qualquer lista e premiação sempre terá hate porque "esqueceu" de alguma coisa. Tá na hora da gente aceitar que cada um tem um gosto e essa é a beleza da coisa.
Por isso as curadorias são importantes e o clubismo e a emoção valem mais do que quantidade, jabá e relações públicas. Se for com emoção e clubismo, tudo será muito mais verdadeiro. E que seja com calma. Não precisa ouvir tudo não. Pode dar play em repeat naquele disco que você ama durante um dia inteiro.
Por Vinícius Cabral
VOLTE PARA O SEU LAR, BEATLEMANÍACO!
Ringo representa todos nós em 2021. #somostodosringo
Como o assunto é forte em nossos debates “internos”, resolvi, como prometido, fazer alguns hot takes sobre o documentário Get Back. Antes de mais nada, é importante deixar claro que eu sou um beatlemaníaco intermitente. Até poucos meses antes de gravar nosso especial The Beatles, eu ainda estava “de mal” com a banda. Aderi, meio que automaticamente, a uma certa tendência de negar os Beatles. No meu caso não por pura birra (como acho que é a regra), mas por saber o quanto o sucesso estrondoso da constantemente proclamada “maior banda de todos os tempos” ajudou a ostracizar uma dúzia de outras bandas seminais - que inclusive influenciaram, profunda e declaradamente, o quarteto de Liverpool. Mas as ressalvas são pequenas diante da grandeza, inúmeras vezes reforçada, da banda. Como o dedeco (guitarrista da godofredo) costuma dizer: de tanto os Beatles serem superestimados, eles passaram a ser subestimados. As quase 9 horas de documentário mostrando o passo a passo da criação de dois álbuns, e de um show, são a prova definitiva disso.
Sem mais delongas, vamos a alguns detalhes que acho dignos de nota, e que ainda não comentei em outras ocasiões:
1- Espero que o “fator Yoko” esteja resolvido, e que as pessoas se sintam estimuladas a conhecer seu trabalho como artista multimídia (aliás, tava precisando de uma exposição dela nesses CCBBs da vida…iria ajudar muito).
2- Por incrível que possa parecer, acho que esse documentário ajuda a desmistificar um pouco os Beatles. Tirá-los de um certo pedestal para nos mostrar o óbvio: eles eram 4 garotos se divertindo fazendo música. Eram, no fim das contas, uma banda, de excelentes músicos e compositores, que deixam a todo instante seus egos pelo caminho em tretas internas. São humanos, como eu, e você que me lê. Cheios de defeitos, paixões e talentos.
3- Claro que, apesar de serem pessoas normais, como nós, havia ali um encontro de talentos um pouco acima da média, realmente. Os Beatles talvez sejam tão gigantes pois calharam de agregar dois dos maiores compositores da história da música (Lennon e McCartney), um guitarrista e compositor inspirado (Harrison), e um dos bateristas mais carismáticos e talentosos do rock (Ringo). Essas quatro mentes acharam um equilíbrio realmente único, e um conjunto fenomenal.
4- Eles ensaiavam, compunham e tocavam muito. Muito no sentido da intensidade mesmo. Antes de gravar uma música eram dezenas de takes, ajustes em letra, arranjo, solos. E tocavam covers pra “aquecer”. Músicas antigas, sobras, brincadeiras e jams malucas, e por aí vai. Tocavam o tempo todo, e isso ajuda a entender porque soam tão coesos.
5- John Lennon é um guitarrista inspirado (e isso é muito pouco falado). Eu já tinha percebido suas habilidades com mais clareza na Plastic Ono Band, mas aqui isso fica ainda mais evidente. Notem como ele cria, na canção Get Back, uma guitarra que é praticamente lead e solo a um só tempo. É um verdadeiro trabalho de guitarrista mesmo…completo.
6- Aqui caberia uma lembrança para o fato de que todos eram multi instrumentistas habilidosos. Até o George e o Ringo tiram alguma coisa arranhando o piano.
7- Querem uma prova cabal da habilidade dos caras? É só responder o seguinte: alguém viu um metrônomo no filme? Não precisava, porque Ringo não deixava cair o tempo não…E afinadores? Alguém viu? Tirando as poucas vezes em que o George Martin aparece pra falar que algo está desafinado - provavelmente querendo chamar alguém pra afinar -, os caras simplesmente pediam um Mi, ou um Lá, pro Billy Preston ou pra quem quer que estivesse em um instrumento de teclas. Você sabe que os músicos são extraordinários quando tudo funciona na base do ouvido, do feeling e da habilidade.
8- Pois é, tem o “fator Billy Preston”. Nem preciso repetir o quanto a atmosfera muda quando ele aparece. Fato é que, sua participação como um quinto Beatle é um dos presentes mais malucos do destino que as câmeras captaram ao longo desse período da banda. Reforçou uma chacoalhada que já era flagrante com a mudança de ares (do estúdio cinematográfico para o estúdio menor, de gravação), e mostrou também o quanto eles sabiam (e gostavam de) tocar e compor em conjunto.
9- Por falar nisso, o trabalho na canção Get Back resume um pouco o que a banda conseguiu construir em termos de cocriação: nascida de uma tentativa meio forçada de composição de Paul no baixo, a música foi ganhando contornos com a participação dos demais. Lennon mexeu na letra, Harrison sugeriu viradas, etc. Com os muitos ensaios, John foi criando o belo trabalho de guitarras que já citei, que acaba carregando metade da canção nas costas, junto com seus backing vocals. O mesmo procedimento coletivo de composição pode ser visto em Don't Let Me Down, I Got A Feeling e tantas outras (em Don't Let Me Down, quando Preston compõe as partes no piano elétrico, a canção muda totalmente, para melhor).
10- Claro que, individualmente, todos levavam suas ideias - algumas bem avançadas. Mas sem o trabalho do conjunto, algumas talvez não tivessem atingido tamanha precisão.
E com isso encerro: com a conclusão de que os Beatles são, antes de qualquer coisa, uma banda. Uma das maiores da história do rock, com certeza, mas ainda assim, uma banda. Precisa, milimétrica nos detalhes que integram o que chamamos de composição musical. Milhares de cursos de música não conseguiriam ensinar a novos artistas o que esses quatro caras aprenderam a fazer nos palcos e estúdios, com infindáveis horas de trabalho, ensaio, prática e performance.
Por Márcio Viana
O SILÊNCIO DOS GROOVES
Como se não bastasse a enorme perda de Lee “Scratch” Perry no meio do ano, o mundo do reggae acaba de sofrer outro duro golpe em 2021: morreu no dia 08 de dezembro aos 68 anos o baixista Robbie Shakespeare, que junto ao baterista Sly Dunbar formou a mais icônica dupla do gênero. Sly & Robbie, ao longo da carreira, tocaram com nomes como Peter Tosh, Bunny Wailer, Shabba Ranks, Ini Kamoze, Chaka Demus, Yellowman, U-Roy, Black Uhuru, entre outros. Para além do reggae, estiveram presentes em gravações de artistas como Madonna, Serge Gainsbourg, Bob Dylan, Simply Red, Mick Jagger, Grace Jones, Cyndi Lauper, Joe Cocker, The Rolling Stones, Sting, Britney Spears e Sinead O’Connor.
Além deste currículo, a dupla foi responsável pela popularização do dub e da inserção de sons eletrônicos no reggae, revolucionando verdadeiramente o estilo.
O baixista foi indicado a 13 Grammys em sua carreira, e ganhou duas vezes: em 1984 como melhor gravação de reggae pelo trabalho como produtor em Anthem, do Black Uhuru e em 1998 com o melhor álbum de reggae por Friends, de sua dupla com Sly Dunbar.
Shakespeare começou a tocar por influência de seu vizinho de bairro em Kingston, Jamaica, Aston “Family Man” Barrett, que viria a ser o baixista dos Wailers. Em 1973, conheceu o parceiro Sly, com quem esteve junto em centenas de gravações. O sucesso da dupla rendeu o apelido de Sly “Drumbar” e Robbie “Basspeare”, inclusive tendo aparecido com essa grafia na ficha técnica do disco Red, do Black Uhuru.
A ministra da Cultura da Jamaica, Olivia Grange, em comunicado à imprensa, disse: “Estou em estado de choque e de tristeza depois de receber a notícia de que meu amigo e irmão, o lendário baixista Robbie Shakespeare, morreu".
A influência de Sly & Robbie para a história da música é inegável e a ausência da base precisa dos graves de Shakespeare será sentida para sempre.
Ouça Sly & Robbie em Reggae Greats
Ouça o especial do Silêncio no Estúdio sobre Reggae, com Vinícius Cabral e Txotxa
Por Brunno Lopez
BORN TO BE ETERNAL
Inventar o termo heavy metal, mesmo que se tratando de uma referência ao motor de uma Harley Davidson já é algo grandioso por si só. Claro, o Steppenwolf é uma banda muito além do trecho de seu hit que transcendeu os eventos de motociclistas e o lançamento desse box com oito discos é um exemplo de sua importância.
Reunindo os álbuns lançados na ABC/Dunhill entre 1967 e 1971 - com capas originais - o material chegou no começo desse mês e mostra muito do que era a contracultura que prosperava em Los Angeles e São Francisco naquela época.
Vale a pena revisitar a história dessa banda que nasceu clássica, agora num registro remasterizado, incluindo faixas bônus e um artigo exclusivo contando toda a história do grupo.
Com tantas coisas novas borbulhando, é até revolucionário voltar um pouco e ouvir novidades, ainda que antigas, daqueles que pavimentaram uma estrada importante no cenário do rock mundial.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana